13 de março de 2011

PAULA FERNANDES NA REVISTA ENCONTRO

Rumo ao topo

* Guto Costa
Nos últimos cinco anos, Paula acumulou conquistas, emprestando a voz para trilhas de novelas, sendo indicada para prêmios e fechando contratos com grandes da indústria fonográfica

Até recentemente, o nome Paula Fernandes circulava num universo muito restrito: quem gosta de música sertaneja, ouve AM, frequenta festas de rodeios, exposições agropecuárias ou quem acompanha mais de perto, até por interesse profissional, o mundo da música. Eis que Paula faz uma súbita aparição no especial de fim de ano da Rede Globo, ao lado do cantor Roberto Carlos, e toda a mídia volta seus olhos para a mineira de apenas 26 anos. Descobre que ela não é uma iniciante, que compôs músicas que se tornaram sucesso em vozes como a da dupla Victor e Leo, que tem parceiros musicais do quilate de Renato Teixeira e Sérgio Reis – ícones da música sertaneja de qualidade – , que já tem mais de 15 anos de estrada em palcos pelo interior do Brasil e que tem uma instigante história de vida.

Sem fazer muito alarde, a artista veio trilhando, especialmente nos últimos cinco anos, um caminho rumo ao topo, acumulando uma série de conquistas: emprestou sua voz para trilhas de novelas; viu composições suas se tornarem sucesso no repertório de famosos; assinou contrato com a gigante da indústria fonográfica Universal Music; passou a integrar o casting da empresa do cantor Leonardo, a Talismã Produções; gravou o primeiro DVD; foi indicada ao Prêmio TIM de Música Brasileira de 2006, na categoria de melhor cantora popular; e ganhou o primeiro disco de platina, por ter ultrapassado a marca de mais de 100 mil cópias vendidas do CD “Pássaro de Fogo”.

É fácil apontar em Paula alguns elementos que explicam essa ascensão e que indicam que a carreira dela tem tudo para não ser meteórica. Até a biografia da artista ajuda: é daquelas histórias que cativam o grande público, por serem baseadas em muita coragem, sacrifícios e determinação. “Paula está realizando um sonho”, revela o único irmão dela, Nilmar Fernandes, 25 anos. “Um sonho que se tornou coletivo – tornou-se o sonho de toda a nossa família.” Os pais decidiram se mudar para São Paulo para que a filha, então com 12 anos, rodasse o interior do país cantando numa companhia de rodeios – moraram em 23 cidades diferentes. Viveram nesse período dificuldades financeiras e voltaram desiludidos para BH.

Ao lado das canções, a trajetória já longa de Paula inspira muitas de suas fãs, como Ana Pereira Penha, 29 anos, nascida em Medina, no Vale do Jequitinhonha, expatriada para São Paulo em busca da sobrevivência e hoje camareira e arrumadeira na cidade grande. Hoje, Ana é presidente de um fã-clube de Paula, o “Pássaro de Fogo”. “A história da Paulinha é linda como as músicas que ela canta. Ela é um exemplo”, diz a fã.

Quem entende do riscado diz que Paula tem o que é necessário para brilhar ainda mais e figurar no grupo de elite da MPB. Encontro ouviu cantores, produtores, empresários do ramo da música e da comunicação. Todos concordam que será difícil a cantora mineira não virar uma estrela de primeira grandeza.

Leia a seguir os cinco motivos que justificam essa aposta:


CANTA BEM
* Guto Costa
O violinista, tecladista e compositor Marcus Viana ficou impressionado com a voz “grave” da cantora

A primeira das qualidades, cantar bem, foi testada primeiro em família – Paula cantava para a mãe, o pai, o irmão, já conhecedores do talento dela, até que aos 10 anos surgiu a primeira oportunidade de expor sua voz à opinião pública. “Paula se apresentou numa barraquinha que havia na rua em que morávamos, em Sete Lagoas. Eu fiquei tão emocionado que me escondi debaixo da cama. De lá, eu ouvia a Paula cantar, mas me faltou coragem para ir vê-la”, lembra o irmão Nilmar.

“O diretor de TV Jayme Monjardim havia me encomendado a trilha da novela América, que falava do estilo country, e eu estava detestando, porque se tratava de um estilo de música que não tem a ver comigo”, lembra o produtor musical e músico Marcus Viana, líder da banda Sagrado Coração da Terra, do qual Paula já fez parte. “Mas eu precisava arrumar alguém para me ajudar naquele projeto. Foi quando vi a Paula cantando country no programa Brasil das Geraes, da TV Minas, pensei: ‘Essa canta com alma’.”
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Com o rei Roberto Carlos, no show na praia de Copacabana, no fim do ano passado: divisor de águas na carreira de Paula Fernandes

Viana convidou Paula para cantar para ele – uma espécie de teste – e lembra que a jovem chegou até ele cantando “meio como a Sandy: mais agudo”. “Mas assim que eu a ouvi, notei que ela tinha uma voz meio metálica, linda, e uma ótima caixa acústica no peito. Ela acabou gravando uma música que fiz para a novela América e passou a integrar a minha banda, como cantora. Fomos jogando a voz dela para o chão, e ela foi aprendendo a cantar mais grave”, conta.

No DVD “Amizade Sincera”, gravado por dois ícones da música sertaneja – Sérgio Reis e Renato Teixeira –, a cantora fez uma participação especial no show gravado ao vivo cantando o clássico “Tristeza do Jeca”. “A Paula enfrentou um teatro cheio, cantando sozinha, tocando o violão. Eu só fiz um pouquinho da segunda voz. Ficou lindo, porque ela tem um timbre gostoso, tem uma personalidade própria”, diz Sérgio Reis, que conheceu Paula na casa de amigos, em Belo Horizonte. “Ela estava lá com o Marcus Viana e passamos uma noite muito agradável, cantando e tocando. Ali, percebi que aquela menina era um grande talento”, afirma.


ÓTIMA INSTRUMENTISTA
* Guto Costa
Embora nunca tenha estudado para valer, Paula conseguiu dominar o violão e hoje é comparada até ao virtuose Almir Satter


Além do canto, Paula tem outro trunfo. “Ela é um Almir Sater de saias. Toca muito bem”, diz Marcus Viana, comparando-a ao exímio violeiro. É surpreendente saber que ela é autodidata no violão. “Nasceu com esse dom. Quando ela demonstrou interesse e talento para a música, minha mãe colocou-a numa aula para aprender a tocar o instrumento. Mas em uma semana já havia aprendido tudo o que a professora, nossa vizinha, sabia. Uma de nossas tias emprestou um violão. Ela foi aprendendo a tocar sozinha, só de ouvir e de ver as pessoas tocando”, diz Nilmar.

Paula confirma a história. “Eu só fui buscar algum conhecimento mais tarde, até mesmo com os profissionais que trabalham comigo”, revela. Um deles foi o guitarrista e violinista mineiro Augusto Rennó, que integrou junto com Paula a banda Sagrado Coração da Terra e traz no currículo o fato de ter estudado com nomes como Toninho Horta e Iam Guest. “Dei algumas poucas aulas de harmonia para a Paula, porque ela já sabia muito. Ela é muito esperta, queria aprimorar seus conhecimentos”, conta. “Tem muita facilidade para aprender. E saber tocar, para ela, que compõe, é fundamental.”


BONS PARCEIROS
* Mila Maluhy
Para César Menotti (à esq), o fato de Paula compor é seu diferencial: “Se ela quiser, tem exclusividade sobre as músicas”


Sérgio Reis, Almir Sater, Renato Teixeira, Victor e Leo, Leonardo, Zezé di Camargo e Roberto Carlos são apenas alguns dos nomes de peso da indústria da música que gravaram músicas de Paula, compuseram canções com ela ou contaram com a participação da cantora em alguns de seus shows. Embora sejam quase todos nomes ligados à música sertaneja, Paula, pessoalmente, não se sente confortável com esse rótulo: que ser vista como uma cantora pop rural. Seu trabalho tem, de fato, elementos da MPB, da música pop, do country americano, do sertanejo de raiz e até de world music – tanto que seu terceiro CD, “Canções do Vento Sul”, rendeu a ela a indicação ao Prêmio TIM de Música Brasileira, na categoria de melhor cantora popular.

“A música dela ultrapassa fronteiras, porque são muitas as referências. Não dá para ser rotulada como sertaneja, pois há até elementos do rock. É diferente de uma Roberta Miranda, por exemplo, que quando apareceu se apresentou mesmo como cantora sertaneja. A própria voz forte da Paula e o jeito como ela interpreta revelam uma identidade muito pessoal”, observa o diretor artístico da Rádio Liberdade, Ronaldo Lapinha, que conhece o trabalho da Paula já há alguns anos e que tem faro para talentos sertanejos.
* Divulgacao
“Ela tem um timbre gostoso, tem uma personalidade própria”, diz o cantor Sérgio Reis

Mesmo quem não milita no mesmo universo de Paula reconhece o valor da artista e encontra elementos de modernidade em seu trabalho. “Fico muito feliz de ver Paula em alguns dos shows que fazemos. Ela gosta de rock e tem muito interesse e conhecimento musical. Isso, com certeza, influencia o trabalho dela. Para mim, ela é uma cantora pop, e um pop bem brasileiro, influenciado pelo sertanejo”, avalia Gegê Lara, produtor cultural responsável pela vinda a BH de importantes atrações internacionais. O produtor cultural destaca que o fato de Paula cantar, tocar violão e compor a aproxima de talentosas cantoras do country americano. “Por isso acho que ela é a maior revelação entre cantoras brasileiras nos últimos anos, dentro da linha em que atua.”

Isso explica o fato de que, hoje, Paula tem conquistado um público diverso. Uma qualidade que Daniel Silveira, diretor artístico da Universal Music, a multinacional que atualmente é a gravadora da artista, declara ter percebido ainda nas primeiras aparições da cantora. “Quando comecei a mostrar a Paula a muita gente, dentro e fora do ambiente de trabalho, reparei que a música agradava aos que gostavam da música sertaneja de raiz como também aos que tinham outras preferências musicais. Por isso acredito que o seu estilo é mais amplo e pode agradar pessoas com gostos variados, pois fala para o coração”, afirma.


E AINDA É MUITO BONITA
* Arquivo pessoal
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“O mercado precisava de algo diferente. Há quase quatro mil duplas sertanejas registradas. É um universo composto por homens – quase sempre duplas. Estava na hora de uma mulher ocupar esse espaço”, diz Marcus Viana. “E Paula tem uma beleza brejeira, bem brasileira. É a própria menina do interior”, define.

Essa percepção que não passou batida pelo diretor artístico da Universal. “Sempre achei que o sertanejo precisava de uma voz que falasse do universo feminino, mas com o ponto de vista da mulher. Paula é uma menina que transformou sua batalha e sua verdade em música de qualidade, e sua personalidade nos conquistou”, diz Silveira.

Num mercado em que a música não é apenas para ser ouvida – mas também para ser vista em DVDs, clips e shows –  apresentar-se dentro de um padrão que é culturalmente aceito e endossado pela indústria da beleza também acaba rendendo pontos. “Paula é muito carismática, de muita simplicidade. A beleza física, sozinha, não é nada, mas, junto às outras qualidades, forma um todo. Ela tem os cabelos lindos, tem a voz linda e um jeito de menina”, derrete-se Sérgio Reis...


...COMPÕE SUAS CANÇÕES
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Matar no ninho. Essa é a expressão com que o meio musical batizou para um perverso fenômeno: um cantor em início de carreira consegue estourar uma música nas paradas de sucesso e vislumbra um futuro promissor. Mas eis que um músico já consagrado resolve gravar a mesma canção e o jovem artista perde espaço, morrendo no começo da caminhada. Daí a expressão morte no ninho.

“Por isso o fato de a Paula compor é fantástico, é um importante diferencial que ela apresenta, pois permite à cantora exclusividade sobre as músicas, se ela quiser. Além disso, a fonte de composições não seca rápido, o que garante a ela, também, longevidade”, diz o cantor César Menotti, que junto ao irmão, Fabiano, forma uma destacada dupla sertaneja mineira.

A verve de Paula para compor revelou-se quando ela tinha 12 anos de idade. “Eu compunha desde essa época, mas tinha vergonha de mostrar às pessoas. Aos 17 anos, criei coragem e mostrei ‘Meu eu e Você’, que foi gravada por Victor e Leo”, relembra. A canção virou um grande sucesso na voz da dupla e significou uma aproximação maior de Paula com nomes já consagrados. No dia em que Marcus Viana conheceu Paula, ela cantou para ele essa música. “Quando a Paula terminou de cantar, confirmei com ela: “Essa música é sua?’ Fiquei impressionado.”
* Arquivo pessoal
Paula, em fotos guardadas pela família: talento precoce

Paula precisa ter sempre caneta e papel à mão. A inspiração não tem hora para acontecer. A cantara já foi surpreendida pelo desejo de escrever uma letra no meio do trânsito, dentro do avião e, não raro, pelas madrugadas. “É um processo muito intuitivo, que acontece muito naturalmente”, diz. Muito de sua inspiração ela busca na infância, nos anos em que viveu ao pé da Serra do Curral, numa infância muito simples e muito rica, ao mesmo tempo. “Aquele local é a minha referência e interfere no meu jeito de compor, no que eu canto. Fui uma criança muito feliz ali e vivi muito próxima à natureza. Hoje, uso elementos do campo para cantar o amor, os sentimentos.”


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Esse adicional de compor é algo que Marcus Viana considera o pulo do gato. “Cantoras, no Brasil, há muitas. Mas o que me encanta na Paula é o serviço completo: ela tem uma voz linda, canta, toca bem, compõe”, resume. “Vislumbro para ela um futuro promissor”, completa Gegê Lara.

Mas Paula não está preocupada em chegar lá. “Eu me interesso mais pela caminhada porque, quando chegar lá, acabou”. Diz isso para, logo em seguida, completar: “O lá, na verdade, não existe. Sempre há algo a ser conquistado. Por isso, é a caminhada que precisa ser saborosa”.

Um comentário:

  1. oi Paula sou uma grande fã sua e sei que quando vc revelou o seu irmão sentiu aquele frio na barriga sem ter acontecido nada então gosto muito mesmo de vc e para mim vc é como uma 2º Mãe pra mim. bjs de sua fã! querida.

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