28 de maio de 2012

O novo show de Paula Fernandes

Estou em São Paulo pela terceira vez nas últimas 3 ou 4 semanas para acompanhar mais um evento chave para a música sertaneja. Durante todo o fim de semana, Paula Fernandes aproveitou o palco do Credicard Hall para lançar seu novo CD e seu novo show, bem diferente e, em quase todos os aspectos, superior ao show que ela apresentou durante toda a última temporada. Na verdade cometi um erro infantil sobre o qual só fui me dar conta depois que vi o show e que percebi a quantidade de detalhes desta nova produção: não levei papel e caneta para anotar o que se passava durante cada música. Sim, porque o novo show da Paula Fernandes é rico em detalhes. Cada música tem um cenário e cada cenário um significado.

Estes três shows realizados na sexta, sábado e domingo no Credicard Hall são os primeiros que a Paula Fernandes faz nesta que é uma das mais (se não a mais) conceituadas casas de show do Brasil. A caminho do evento, um dos convidados afirmava surpreso que há 10 anos atrás jamais imaginaria o Credicard Hall recebendo com sucesso tantos artistas sertanejos. O DVD do Gusttavo Lima foi recentemente gravado lá, também.

A principal e mais interessante surpresa do novo show da musa da música sertaneja é a impressão em 3D que uma tela semi-transparente na frente do palco, com projeções de imagens, passava. Sempre que a tela descia do topo do palco e começava a alternar diferentes imagens, parecia que a banda e a Paula Fernandes, bem como as projeções no painel de alta resolução utilizado ao fundo, estavam dentro do que era transmitido. E a cada música tanto as projeções desta tela semi-transparente como as do painel de alta resolução eram modificadas para condizer exatamente com a mensagem da música que estava sendo tocada.

A música “Sem Você”, por exemplo, cujo clipe foi gravado na serra do Cipó, com várias cenas na cachoeira, recebeu durante o show imagens de uma cachoeira no painel de alta resolução com uma estrutura de pedras cenográficas com a Paula sentada em cima montadas num praticável móvel colocado no centro do palco e que, durante a música, deslizava um pouco para a frente. E isso acontecia a cada música, com um cenário diferente para cada ocasião e uma profusão de itens que ou desciam do teto ou eram trazidos pela produção enquanto o telão semi-transparente distraía o público.


Em um trecho do show, por exemplo, grandes flores do campo cenográficas dividiam espaço com a banda. Em outro trecho, no dos medleys de sucessos sertanejos, uma grande saia cenográfica, daquelas típicas de festas juninas, desce do teto e fica girando, simulando uma dança tradicional de moça da roça. Em outro momento, uma grande lua crescente (ou mingüante, talvez, nunca sei qual é qual) substitui o balanço que a Paula usou no DVD e nos shows da última temporada. Isso mesmo, ela senta na lua para cantar uma música e ainda convida alguém da platéia para sentar enquanto ela canta outra canção.

Numa das partes mais interessantes do show, imagens (inicialmente estáticas, mas depois subsituídas por um vídeo de sua infância) da Paula ainda criança são expostas no telão semi-transparente enquanto o show transmite um áudio dela na mesma idade cantando a música “Coração na Contra-mão”, de Zezé di Camargo & Luciano. Logo depois, ela entra cantando ao vivo a mesma música, dando início ao trecho de releituras de sucessos da música sertaneja, que inclui “O último adeus”, do Trio Parada Dura, “Sorriso Mudo”, de Juliano & Jardel, uma de Gino & Geno e outras.

O repertório do show, basicamente, mudou apenas nas músicas cantadas, mas continua voltado para a interpretação da Paula Fernandes. O fato de ela ter cantado muitas canções do novo CD, que eu ainda não tinha ouvido (mas que acabou de cair na Internet) provavelmente impediu uma reação mais imediata do público, que vibrou durante as canções conhecidas e o cover da Shania Twain, claro.

É importante observar, aliás, a maturidade da Paula em saber usar em diferentes aspectos atuais da sua carreira uma qualidade que muitos sempre apontaram: sua beleza. Tanto nas mais recentes imagens de divulgação quanto no figurino do show e até em alguns trechos de imagens utilizados no painel de alta resolução (durante um dos intervalos para troca de roupa, o painel de alta resolução transmite imagens da Paula debaixo d’água, com um vestido branco que, óbvio, fica transparente com água), a sua beleza tem sido muito bem explorada.

A promessa é de que a estrutura deste show seja levada para a estrada. Por conta disso, a principal pergunta que eu e todos os convidados nos fazíamos era: como? São tantos detalhes, tantas nuances, que é provável que um show como esse que a Paula apresentou no Credicard Hall não encontre assim tantos lugares ou públicos que o compreendam. Num dos trechos do show, por exemplo, tiveram a geniaaaaaal idéia de simular a história da Chapeuzinho Vermelho, com a Paula Fernandes vestida com um capuz vermelho iluminado e um ator ao fundo, sem iluminação (para dar apenas o efeito da silhueta), fazendo o “papel” do Lobo Mau. Num outro trecho, a música é exposta em formato de história em quadrinhos no painel de alta resolução ao fundo.

Não querendo menosprezar a inteligência do grande público sertanejo, mas é pouco provável que o público das pequenas cidades do interior compreendam as mensagens passadas em cada canção pelo cenário, o que é uma grande decepção, óbvio, dada a genialidade das idéias empregadas. Desde sempre, aliás, a reclamação quanto ao show da Paula Fernandes sempre foi a mesma velha e conhecida desculpa do “ah, é muito lento o show dela”. Pelo amor de Deus, quanta ingenuidade e ignorância. Deve ser duro para um artista tentar se diferenciar do mercado e mostrar algo novo nas suas músicas e no seu show e ter que ouvir reclamações que soam apenas como um desejo para que o show siga a mesmíssima linha de todos os outros.

A grande quantidade de trocas de roupa e saídas do palco, com inúmeros intervalos instrumentais e lotados de imagens nos telões, talvez diminua um pouco o ritmo do show, o que também pode ser um problema diante de um público ignorante, como é grande parte do público brasileiro. No Credicard Hall, assistimos a um espetáculo em um formato no qual esse tipo de show funciona, com o público sentado e presente apenas com o intuito de ver um grande um show e não de encher o rabo de cachaça e pegar alguém no fim da balada. Transportar esse mesmo show para públicos de feiras agropecuárias, por exemplo, vai ser um grande desafio. Desafio esse que a Paula, agora numa fase mais centrada depois da grande explosão do ano passado, aparentemente pretende encarar daqui pra frente. Eu fiquei extasiado. Afinal é assim que a gente fica quando assiste a um puta de um show. Agora é esperar pra ver se o grande público brasileiro vai encarar da mesma forma.


Por  Marcus Vinícius

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