Vez ou outra aparece no mercado
sertanejo um artista carregando a pressão do mundo em suas costas. Um
disco de mega sucesso sempre gera uma preocupação excessiva do mercado
quanto ao que ele vai preparar a partir dali. Errar é uma hipótese
inconcebível, inaceitável, inimaginável. Com a incrível marca de mais de
um milhão e meio de cópias vendidas entre CDs e DVDs do seu último
disco (o que, se levarmos em conta a proporção de vendas de 15 anos
atrás, daria uns 6 milhões, rsrs), Paula Fernandes é um dos nomes da
música sertaneja que se posicionou no paredão aguardando o julgamento e,
dependendo do caso, o fuzilamento do mercado. Não que o novo CD
precisasse ser perfeito. O problema é que não dava para errar.
Antes de analisar o disco em si, é
importante atentar para a preocupação da Paula Fernandes com outros
fatores também relacionados ao disco, como o seu visual e o show. As
fotos do encarte do disco e o visual utilizado por ela em eventos
mostram que aparentemente ela passou a ter consciência de um dos seus
pontos fortes. A imagem de menina da roça, caipira, de chapéu, no disco
“Pássaro de Fogo”, que depois virou a moça inocente e por vezes juvenil
(favor interpretar este termo como um elogio) do balanço no DVD, agora
dá lugar à imagem de mulher fatal, apesar disso evidentemente não ser a
praia dela. Abusando dos decotes e valorizando as curvas e as pernas,
além do cabelo invejado por 10 entre 10 mulheres, a Paula Fernandes de
agora é bem mais preocupada com seu lado sensual.
O show, inclusive, ressalta ainda mais
isso. Outro dos aspectos do show que deve ser ressaltado ao analisarmos a
relação com o novo disco é a preocupação em transformar as músicas em
algo visual. Ao invés de se preocupar apenas com tocar as músicas junto
com sua banda, o espetáculo, que já foi descrito aqui no Blognejo
semanas atrás, se preocupa em dar ao expectador uma experiência vívida
daquilo que está sendo cantado. Como ela acaba de lançar um CD, e não um
DVD, essa experiência visual acaba sendo ainda mais importante para o
público e para a própria Paula.
O disco em si é basicamente um retrato
linear da artista. Desde o disco “Pássaro de Fogo”, praticamente não
houve mudança nas concepções de arranjos e de interpretação, mesmo que
cada disco tenha sido assinado por um produtor diferente. O “Pássaro de
Fogo” foi assinado pelo maestro Marcus Vianna, o DVD pelo Luiz Carlos
Maluly e o “Meus Encantos” pelo diretor musical de sua banda Márcio
Monteiro. Acontece que, em todos os discos, a participação do Márcio
Monteiro foi determinante. Por isso a regularidade na sonoridade dos
trabalhos desde o “Pássaro de Fogo”.
O que talvez se nota de diferente no
disco “Meus encantos” quando o comparamos com os anteriores é a inclusão
de elementos do pop internacional oitentista na música título e, em
menor grau, na faixa “Nunca mais eu e você”, que traz a participação do
maestro Marcus Viana nos violinos. No restante das músicas, predominam
novamente os elementos acústicos, desta vez valorizando um pouco mais o
banjo em algumas canções e a guitarra steel em outras.
Mais uma vez o trabalho é basicamente
autoral, com uma parceria ou outra nas composições. Tirando as duas
músicas gravadas com Juanes e Taylor Swift, todas as músicas levam a
assinatura da Paula Fernandes. Duas delas, “Eu sem você” e “Mineirinha
Ferveu” são parcerias com Zezé di Camargo, repetindo a parceria que deu
origem ao sucesso “Pra você”, do último disco. Apesar no peso do nome da
parceria, são as canções com a mensagem mais simplória do disco. Além
disso, a música “Eu sem você” foi a que recebeu menos atenção e carinho
no arranjo, em comparação com as outras.
A música “Harmonia do amor” é uma
parceria com o cantor Zé Ramalho, que também cantou na música. E a
parceria com Victor Chaves, já de muitos anos, está representada na
belíssima e ultra profunda canção “Além da vida”. Dentre as músicas que a
Paula escreveu sozinha, “Céu Vermelho” é provavelmente a mais singela e
genial.
A maioria das músicas leva novamente uma
interpretação suave. Apenas a canção “Long Live” é que exigiu uma
interpretação um pouco mais exagerada em certos trechos. Nas outras, o
que se observa é a tradicional interpretação suave e com voz grave da
Paula, com mensagens românticas em todas as letras. Diferente do disco
“Pássaro de Fogo”, desta vez não replicaram a voz da Paula nos refrões.
Ao invés disso, se preocuparam em gravar backing vocals um pouco mais
tradicionais, apesar da sonoridade diferenciada, cada um fazendo uma voz
e não apenas a Paula cantando de novo por cima da sua própria voz já
gravada, o que, a meu ver, era um dos poucos defeitos daquele trabalho.
No fim das contas, o disco “Meus
encantos” é nada mais que a continuidade de um projeto de sucesso. É
praticamente a repetição do “Pássaro de Fogo” e do DVD “Paula Fernandes
ao vivo”. Um disco que, assim como os outros, é para ser ouvido deitado
numa rede com os olhos fechados, e que mostra mais uma vez a força da
identidade musical desta artista, que de tão evidente acaba fazendo com
que ela seja incluída naquela sempre chata lista de artistas que, de tão
bons e diferenciados, acabam sendo considerados “não-sertanejos”. É a
tendência que as pessoas têm de emburrecer a música sertaneja, achando
que o segmento não merece artistas tão bons quanto Paula Fernandes,
Victor & Leo, Almir Sater, Renato Teixeira, e vários outros. Azar
dos que pensam assim, porque tá pra nascer alguém mais sertaneja que a
Paula Fernandes entre as cantoras de sucesso recente.
Marcus Vinícius
Fonte : Blognejo
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