9 de julho de 2012

REVIEW – Paula Fernandes – Meus Encantos

Vez ou outra aparece no mercado sertanejo um artista carregando a pressão do mundo em suas costas. Um disco de mega sucesso sempre gera uma preocupação excessiva do mercado quanto ao que ele vai preparar a partir dali. Errar é uma hipótese inconcebível, inaceitável, inimaginável. Com a incrível marca de mais de um milhão e meio de cópias vendidas entre CDs e DVDs do seu último disco (o que, se levarmos em conta a proporção de vendas de 15 anos atrás, daria uns 6 milhões, rsrs), Paula Fernandes é um dos nomes da música sertaneja que se posicionou no paredão aguardando o julgamento e, dependendo do caso, o fuzilamento do mercado. Não que o novo CD precisasse ser perfeito. O problema é que não dava para errar.

Antes de analisar o disco em si, é importante atentar para a preocupação da Paula Fernandes com outros fatores também relacionados ao disco, como o seu visual e o show. As fotos do encarte do disco e o visual utilizado por ela em eventos mostram que aparentemente ela passou a ter consciência de um dos seus pontos fortes. A imagem de menina da roça, caipira, de chapéu, no disco “Pássaro de Fogo”, que depois virou a moça inocente e por vezes juvenil (favor interpretar este termo como um elogio) do balanço no DVD, agora dá lugar à imagem de mulher fatal, apesar disso evidentemente não ser a praia dela. Abusando dos decotes e valorizando as curvas e as pernas, além do cabelo invejado por 10 entre 10 mulheres, a Paula Fernandes de agora é bem mais preocupada com seu lado sensual.

O show, inclusive, ressalta ainda mais isso. Outro dos aspectos do show que deve ser ressaltado ao analisarmos a relação com o novo disco é a preocupação em transformar as músicas em algo visual. Ao invés de se preocupar apenas com tocar as músicas junto com sua banda, o espetáculo, que já foi descrito aqui no Blognejo semanas atrás, se preocupa em dar ao expectador uma experiência vívida daquilo que está sendo cantado. Como ela acaba de lançar um CD, e não um DVD, essa experiência visual acaba sendo ainda mais importante para o público e para a própria Paula.

O disco em si é basicamente um retrato linear da artista. Desde o disco “Pássaro de Fogo”, praticamente não houve mudança nas concepções de arranjos e de interpretação, mesmo que cada disco tenha sido assinado por um produtor diferente. O “Pássaro de Fogo” foi assinado pelo maestro Marcus Vianna, o DVD pelo Luiz Carlos Maluly e o “Meus Encantos” pelo diretor musical de sua banda Márcio Monteiro. Acontece que, em todos os discos, a participação do Márcio Monteiro foi determinante. Por isso a regularidade na sonoridade dos trabalhos desde o “Pássaro de Fogo”.

O que talvez se nota de diferente no disco “Meus encantos” quando o comparamos com os anteriores é a inclusão de elementos do pop internacional oitentista na música título e, em menor grau, na faixa “Nunca mais eu e você”, que traz a participação do maestro Marcus Viana nos violinos. No restante das músicas, predominam novamente os elementos acústicos, desta vez valorizando um pouco mais o banjo em algumas canções e a guitarra steel em outras.

Mais uma vez o trabalho é basicamente autoral, com uma parceria ou outra nas composições. Tirando as duas músicas gravadas com Juanes e Taylor Swift, todas as músicas levam a assinatura da Paula Fernandes. Duas delas, “Eu sem você” e “Mineirinha Ferveu” são parcerias com Zezé di Camargo, repetindo a parceria que deu origem ao sucesso “Pra você”, do último disco. Apesar no peso do nome da parceria, são as canções com a mensagem mais simplória do disco. Além disso, a música “Eu sem você” foi a que recebeu menos atenção e carinho no arranjo, em comparação com as outras.

A música “Harmonia do amor” é uma parceria com o cantor Zé Ramalho, que também cantou na música. E a parceria com Victor Chaves, já de muitos anos, está representada na belíssima e ultra profunda canção “Além da vida”. Dentre as músicas que a Paula escreveu sozinha, “Céu Vermelho” é provavelmente a mais singela e genial.

A maioria das músicas leva novamente uma interpretação suave. Apenas a canção “Long Live” é que exigiu uma interpretação um pouco mais exagerada em certos trechos. Nas outras, o que se observa é a tradicional interpretação suave e com voz grave da Paula, com mensagens românticas em todas as letras. Diferente do disco “Pássaro de Fogo”, desta vez não replicaram a voz da Paula nos refrões. Ao invés disso, se preocuparam em gravar backing vocals um pouco mais tradicionais, apesar da sonoridade diferenciada, cada um fazendo uma voz e não apenas a Paula cantando de novo por cima da sua própria voz já gravada, o que, a meu ver, era um dos poucos defeitos daquele trabalho.

No fim das contas, o disco “Meus encantos” é nada mais que a continuidade de um projeto de sucesso. É praticamente a repetição do “Pássaro de Fogo” e do DVD “Paula Fernandes ao vivo”. Um disco que, assim como os outros, é para ser ouvido deitado numa rede com os olhos fechados, e que mostra mais uma vez a força da identidade musical desta artista, que de tão evidente acaba fazendo com que ela seja incluída naquela sempre chata lista de artistas que, de tão bons e diferenciados, acabam sendo considerados “não-sertanejos”. É a tendência que as pessoas têm de emburrecer a música sertaneja, achando que o segmento não merece artistas tão bons quanto Paula Fernandes, Victor & Leo, Almir Sater, Renato Teixeira, e vários outros. Azar dos que pensam assim, porque tá pra nascer alguém mais sertaneja que a Paula Fernandes entre as cantoras de sucesso recente.

Marcus Vinícius
Fonte : Blognejo

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